30.8.13

A Pulga


Entusiasmada com a revelação que lhe fora feita por um médium, a senhora comentou:

– Chico, recebi uma notícia maravilhosa!

– O que foi, minha irmã?

– Minha identidade nos tempos apostólicos!

– Beleza!

– Fui mártir. Estive no Circo Romano. Morri devorada por um leão!

Ante a admiração do médium, perguntou:

– E você, Chico, já sabe quem foi?

– Ah! minha irmã, sei sim…

– E daí? Estou curiosa…

– Fui a pulga do leão.

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O episódio, que nos fala da humildade e do bom-humor de Chico, remete-nos a uma curiosa tendência, relativa às famosas revelações.

Geralmente, o iluminado foi rei, rainha, estadista, cientista, artista famoso…

Sempre alguém importante, que se destacou em determinado setor de atividade.

Não se ouve falar de lixeiro, operário, camponês, homem do povo…

Detalhe relevante, nesse assunto, amigo leitor:

Considerando que os que se destacam na política, nas artes, na religião, constituem minoria, certamente há algo de equivocado nessas revelações que privilegiam todos os consulentes.

A experiência demonstra que são produzidas por médiuns ou Espíritos espertos, interessados em incensar a vaidade das pessoas, a fim de conquistar sua confiança e admiração.

Raros não sentem inflar o ego ante a informação de que foram figuras destacadas, em pretéritas existências.

Daí sua disposição em oferecer créditos de cega confiabilidade em favor desses “reveladores”.

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Não é prudente, portanto, nem conveniente, estarmos devassando o passado, à procura de títulos e honrarias. 
Destaque-se que a simples estima por notícias dessa natureza é um atestado negativo. 
Os Espíritos esclarecidos, que realmente ofereceram contribuições marcantes, aqueles que deixaram a Terra melhor do que a encontraram, não se interessam por glórias do passado. 
Importa-lhes as realizações do presente, dando o melhor de si mesmos em favor do progresso e do bem-estar da Humanidade.
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Mesmo sem procurar por revelações, podemos ter uma ideia do que fomos, analisando nossas tendências, nossa maneira de ser.

Mas, é preciso cuidado para não interpretar de forma equivocada os sinais.

Alguns exemplos:

• Gostar de roupas elegantes e caras.
Suposição: dama da realeza.
Realidade: costureira de modista.

• Apreciar finas iguarias.
Suposição: rico e refinado gourmet.
Realidade: cozinheiro.

• Estimar a solidão.

Suposição: filósofo.
Realidade: longo e solitário estágio no Umbral.

• Apreciar viagens.

Suposição: desbravador de terras novas.
Realidade: caixeiro-viajante.

• Amor à primeira vista.
Suposição: reencontro com alma gêmea.
Realidade: paixão delirante.

Mais interessante deixar o terreno das suposições e encarar a realidade.

Se Chico dizia-se a pulga do leão, é bem provável que tenhamos sido um Dipylidium caninum, o verme da pulga.

Livro Rindo e Refletindo com Chico Xavier

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