Sabemos que há médiuns extremamente passivos e faculdades que, por si
mesmas, obrigam a essa passividade como, por exemplo, a incorporação
inconsciente e os efeitos físicos.
Estes são os casos em que os médiuns realmente representam. para as
forças e entidades do plano invisível, um “aparelho”, um “instrumento” como se
costuma dizer, porque então, estão elas inteiramente à disposição dessas
entidades e em quase nada intervêm, na ocorrência dos fenômenos.
O mesmo porém não se dá com as faculdades de lucidez, que permitem
aos médiuns conservar sua consciência, liberdade de ação e personalidade,
como também agir segundo a própria vontade, até mesmo deixando de ser
“intermediários”, abstendo-se ou recusando-se
a transmitir o que vêem ou ouvem, caso o desejem.
A passividade funcional, todavia, mesmo nos primeiros casos citados,
somente deve ocorrer no período da ação mediúnica voluntária, fora da qual os
médiuns devem conservar e utilizar seus atributos psíquicos normais, livres de
qualquer influência exterior.
Natural, pois, e mesmo necessário, que haja passividade no ato funcional
mediúnico e atividade e consciência plenas fora desse ato, não só para o
selecionamento do ambiente do trabalho, como para a escolha de
colaboradores, de processos, tudo visando a perfeita realização da tarefa
individual.
A passividade cega entrega os médiuns à influência de forças e entidades
de todas as classes e esferas, indiscriminadamente e isso é altamente nocivo:
não só representa um abastardamento do fruto do seu trabalho como traz a
possibilidade do desvirtuamento de suas faculdades, que podem ser desviadas para o mal, quando utilizadas por Espíritos ignorantes, inconscientes ou
maldosos.
Sem espiritualização a mediunidade não evolui.
Pode haver esforço e trabalho mediúnico, porém, diz André Luiz, “sem
acrisolada individualidade não existirá aperfeiçoamento mediúnico.”
E quanto aos médiuns de lucidez, se agirem com passividade cega e
desconhecerem certos problemas da vida mediúnica, pode ocorrer que
penetrem no campo hiperfísico inconscientes do que se passa ao seu redor e
por isso não possam compreender ou classificar
o que vêem ou ouvem, as entidades que lhes falam e o mais que suceder
durante a ação mediúnica, expondo-se a perturbações diversas, mormente as
do campo mental.
Além disso, como médiuns, intermediários, agentes de ligação entre os
dois mundos, que confiança podem merecer se eles próprios ignoram, não só a
natureza como o significado do que vêem ou ouvem?
Mas como, mesmo assim, quando estes casos ocorrem, fazem a
transmissão — e não são poucos os médiuns passivos e ignorantes calcule-se
daí a extensão das informações, transmissões errôneas, absurdas e
ilusórias que espalham pelo mundo! Nestes casos só haveria um meio de
joeirar os erros transmitidos: possuírem os dirigentes de trabalhos, ou pessoas
interessadas na transmissão, conhecimentos gerais e adequados dos aspectos
e problemas da vida espiritual, eliminando uns e aceitando outros.
Isso, porém, como sabemos, muito raramente acontece e, a rigor, tudo
quanto o médium diz ou transmite é aceito também cegamente, ou de boa-fé,
pelos interessados.
Por aí se vê que esses primeiros trabalhos do desenvolvimento são
delicados e difíceis de ser regulados convenientemente porém deles depende
em grande parte a futura estruturação da mediunidade em curso.
Não basta pois sentar a uma mesa e concentrar-se: é preciso estudo, boa
vontade, critério, inteligência e recíproco espírito de cooperação entre médiuns
e instrutor.
O médium, nestas circunstâncias, é como um aluno que precisa acomodar-se
às regras, às ordens, à disciplina, ao regimento da classe em que está;
confiar e obedecer criteriosamente aos instrutores.
Por falta dessa educação inicial é que se vê comumente o nº de médiuns,
arbitrariamente influenciados, manifestarem-se antes mesmo que as sessões
sejam declaradas abertas, e também casos em que os próprios protetores
individuais de médiuns são causadores de irregularidades semelhantes, o que
demonstra que ignoram, tanto quanto os próprios médiuns e diretores de
trabalhos, as verdadeiras regras espirituais que devem ser seguidas nos
trabalhos práticos.
Essas irregularidades prejudicam a todos os assistentes mas, sobretudo,
aos médiuns em desenvolvimento já que estes, ao seu próprio e natural
desgoverno, adicionam ainda o que lhes vem de práticas tão mal conduzidas.
Este é um simples exemplo isolado, porém há muitos outros que poderiam
ser citados e que em nada recomendam a prática espírita em comunidades
onde predomína a ignorância e a falta de compreensão da formação.
Impedindo, pois, que se deixem dominar de forma arbitrária e cega,
estaremos desde logo concorrendo para formar médiuns seguros, equilibrados,
inspiradores de confiança.
qual o processo para se conseguir isso, em sentido geral?
Entre outras coisas, é necessário o seguinte:
a) a direção dos trabalhos deve estar com pessoa competente, que
conheça o problema detalhadamente;
b) deve existir perfeito entrosamento de ação nos dois planos, mediante
ajuste prévio com os operadores invisíveis;
c) não se permitir que Espíritos desencarnados irresponsáveis, ou
estranhos ao trabalho, se aproximem dos médiuns e exigir que os destacados
para isso, só o façam no momento oportuno;
d) criar, para o trabalho, um ambiente espiritualizado, de objetivos
elevados, excluídos o exibicionismo, a superstição, o personalismo, o interesse
pessoal;
e) exigir que as manifestações se dêem em ordem, uma de cada vez, para
evitar confusões e tumulto:
f) desmascarar pacificamente todas as mistificações, tanto de médiuns
como de Espíritos, e pôr em evidência todas as manifestações e ocorrências
que possam servir de ensinamento e de edificação moral:
g) ter como finalidade o espiritismo evangélico que é o único que
assegura uma assistência espiritual elevada.
Mas, se apesar dos cuidados postos em prática, do método seguido, da ordem
e disciplina mantidos por todos, da firmeza das concentrações, da pureza das
intenções, os trabalhos degenerarem em violência, desordem, confusão, é
então de supor que a assistência espiritual não é ainda favorável; não foi ainda
atingido um clima que inspire segurança, e tornam-se nestes casos precisos
novos entendimentos com os guias, novos esforços, novas tentativas, porque
é essencial a boa assistência, e o bom ambiente nos dois planos.
O fato de terem sido designados determinados Espíritos para realizarem ou
dirigirem trabalhos na Crosta, junto aos encarnados, não significa que sejam
eles Espíritos de hierarquia elevada; recebem determinada missão e se, em
alguns casos possíveis, não a cumprem com a devida competência ou
dedicação, ou se a desvirtuam estarão, como nós outros, sujeitos à mesma
responsabilidade.
Muitos Espíritos pedem tais tarefas, ou porque desejam permanecer junto
de encarnados para os quais sentem afinidade, prendem-se por laços efetivos,
ou por simples desejo de cooperação na obra comum de esclarecimento das
almas; mas assim também com& acontece conosco aqui na Terra, podem
fracassar ou desmerecer por várias circunstâncias.
Em todos os casos, ocorrendo tais coisas é necessário apelar para as
Entidades superiores, a fim de que as falhas sejam sanadas e os trabalhos
prossigam com nova orientação.
E, reversamente, quando tudo vai bem, quando há dedicação, desinteresse
e amor ao trabalho, de parte a parte, os resultados vão sendo cada vez mais
compensadores e aos primitivos trabalhadores novos elementos se associam, sempre de valor mais elevados ganhando então os trabalhos cada vez maior
força e expressão.
São, pois, indispensáveis bons elementos individuais nos dois planos e
somente assim as forças superiores podem descer sobre eles, assegurando o
referido progresso; caso contrário estabelece-se um ambiente refratário a
essas forças e, além disso, surgem vibrações negativas, de baixa qualidade,
que a todos prejudicam e abrem as portas a forças e entidades de planos
inferiores, sempre prontas a intervir, desde que se lhes forneça oportunidade.
Chegando a este ponto a sessão se transformará num foco de desordem
psíquica, de venenos fluídicos, que atacarão sem piedade médiuns e
assistentes, trazendo-lhes perturbações às vezes muito serias.
Em resumo, as boas práticas e os bons ambientes constroem e os opostos
destroem as possibilidades de um desenvolvimento natural, harmonioso e
eficiente, de faculdades mediúnicas.
Outra recomendação a fazer aos médiuns em desenvolvimento, é falarem
com desembaraço e confiança, desde o princípio.
Os de incorporação consciente e semi-consciente, sobretudo. são os que mais
recalcam em si mesmos essas possibilidades porque estão sempre mais ou
menos despertos e usam palavras próprias para traduzir as idéias
telepáticamente recebidas dos Espiritos comunicantes; e isso lhes cria uma
situação de verdadeiro constrangimento.
É grande o número de médiuns que fracassam só por causa disto ou no
mínimo estacionam a ponto de estagnar completamente suas faculdades
mediúnicas. Mas se compreenderem bem a natureza dessas faculdades e as
limitações que lhes são próprias, conforme explicamos no capítulo 9 deste livro,
sua confiança renascerá e se tornarão intérpretes fiéis e eficientes.
Há todavia outras causas que produzem recalques e prejudicam o
desenvolvimento.
Médiuns há que por possuirem pouca cultura e terem de transmitir com
suas próprias palavras e recursos mentais as idéias recebidas dos Espíritos, se
atemorizam da critica alheia.
Outros que se julgam diminuir transmitindo idéias muitas vezes banais e
futeis, de Espíritos atrasados.
Ou que se consideram humilhados por fazerem nas sessões as mesmas
coisas, tomarem as mesmas atitudes de indivíduos de condição social inferior à
sua.
Outros que se constrangem por se sujeitarem a Espíritos atrasados e por
terem de dizer coisas que em plena consciência não diriam e que muitas vezes
são contrárias às suas próprias idéias e pensamentos.
Muitos, também, que se escrupulizam ou envergonham de exercer suas
faculdades na presença de pessoas amigas, ou da própria família, perante as
quais, na vida comum, mantêm determinadas .condições de superioridade, que
seriam prejudicadas com qualquer intimidade ou promiscuidade.
Há também inúmeros casos de constrangimento provenientes de serem
médiuns indivíduos professantes de religiões dogmáticas e obsoletas.
ignorantes das coisas do espírito, se atemorizam com a posse de faculdades
psíquicas, que consideram tentações maléficas, obra demoníaca; assim, lutam para reprimi-las e muitas vezes caem vitimados pela própria ignorância ou
recalcitrância.
Verdadeiros dramas ocorrem no seio de famílias católicas e protestantes,
ou de materialistas. cujos responsáveis muitas vezes preferem sacrificar os
entes queridos a admitirem neles a existência de faculdades espirituais.
A todos estes irmãos, detentores de faculdades mediúnicas recalcadas,
devemos dizer que necessitam antes de mais nada, de humildade. O médium
orgulhoso já está de inicio fracassado na tarefa que aceitou, porque coloca
acima dela os pre-conceitos mundanos, que nada valem à face das coisas de
Deus eternas e soberanas. Subestimam justamente aquilo que lhes pode servir
de auxílio para se elevarem na escala evolutiva.
Mas todos terão oportunidade de se vencerem a si mesmos, porque se
pedirem forças e auxílio do Alto, é certo que os receberão imediatamente.
Está pois em suas próprias mãos o triunfo ou a derrota, isto é:
uma subida ou uma queda espiritual quando, após seu desencarne,
tiverem de prestar suas contas às Entidades Superiores do Espaço.
Livro Mediunidade
Autor Edgard Armond
Paz e Luz
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