24.4.11

Entrevistas com Divaldo Pereira Franco



Sérgio Martinelli, à época redactor-chefe do diário Correio de Uberlândia, registrou explanações de Divaldo Franco, à luz da Doutrina Espírita, sobre questões que afligem a sociedade moderna, além de sintetizar os fundamentos do Espiritismo.

- Nunca o jovem recebeu tanto da sociedade como agora e, no entanto, ele busca o auto-extermínio através dos tóxicos e do suicídio. Como você explica essa atitude?



DIVALDO:

Para nós espíritas, a questão do jovem moderno tem antecedentes muito graves. É a falência dos valores ético-morais, o desequilíbrio da família, a ausência de Deus no coração, as constrições do raciocínio apresentadas pela tecnologia, as realidades sociais conspirando contra o domínio e a estabilidade emocional de quem transita na juventude.

Não obstante essas condições, cremos ser a actual geração, com expressivas excepções, resultante de reencarnações dos vitimados na primeira e na segunda guerras mundiais. Retornando ao proscénio das lutas malogradas, trazem profundas marcas das inquietações e dos dramas vividos, reflectindo-se inconscientemente em processos neurotizantes que os levam à violência, à agressividade, ao desajuste, à delinquência.

Embora tais adversidades, somos optimistas, porque esses desequilíbrios logo estarão superados, vez que Cristo Jesus está no leme da barca terrestre e a humanidade vem caminhando, mesmo a duras penas, para o seu nobre fanal - a felicidade.

Extraído de "SEARA DE LUZ"
ENTREVISTAS a Divaldo P. Franco, organizado por Fernando Hungria, cap. 11. 



ENTREVISTA:

Universo Espírita / Divaldo Pereira Franco

Universo Espírita: O Apóstolo Paulo de Tarso, em um momento muito especial, fez a seguinte recomendação a Tito (2:1): "Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina." Esta advertência, que, por si só, encerra um significado profundo, podemos considerá-la sempre oportuna, também para o Movimento Espírita?

Divaldo Pereira Franco: Toda vez que uma idéia cresce em superfície, perde em profundidade. A Doutrina Espírita encontra-se exarada na Codificação apresentada por Allan Kardec, ali contendo toda a grandiosidade das revelações propostas pelos Espíritos Imortais e, naturalmente, desdobradas pelo insigne codificador. À medida que esse pensamento se vem expandindo, corre o natural perigo de receber informações que não correspondem à qualidade do seu conteúdo. É natural que, desde aqueles dias, Paulo se preocupasse com a sã doutrina. Para que fossem preservados os ensinamentos do Cristo, conforme ele os enunciou e os seus discípulos transmitiram à posteridade, esta preocupação deve viger no Movimento Espírita, sempre sujeito à interferência de pessoas inovadoras, que não se detiveram no estudo profundo e sério da Codificação e, vez que outra, por ignorância dos seus postulados, pretendem informar que aquela, a Codificação, estaria ultrapassada. 

Por outro lado, velhas doutrinas do passado, que se celebrizaram no Oriente, e que têm, de alguma forma, pontos de contato com o pensamento espírita: a imortalidade da alma; a reencarnação; a justiça divina, oferecem cabedal a muitos estudiosos dos seus conteúdos que, defrontando a transparência do pensamento espírita, sem se darem conta, procuram enxertar esses conhecimentos no admirável postulado da doutrina que devemos preservar. Por isso, deveremos estar atentos para transferirmos àqueles que nos sucederão, a sã doutrina, conforme haurimos nas fontes autênticas da Revelação Espírita.



U. E.: Que análise o senhor faz a respeito do II Congresso Espírita Mundial, recentemente realizado em Portugal, e de sua importância para o Movimento Espírita.

Divaldo: Todos os congressos têm por finalidade oferecer qualificação dos propósitos para os quais são convocados. Os congressos espíritas oferecem o grande significado do pensamento da Doutrina, para que sejam debatidos os seus temas essenciais, e, acima de tudo, atualizados, porquanto o progresso da ciência é ininterrupto e, inevitavelmente, necessitamos fazer as pontes entre a revelação de que Allan Kardec foi objeto, com essas mesmas conquistas da tecnologia e da ciência, na sua fase mais elevada do pensamento. É natural, portanto, que os congressos tragam para o Movimento uma valiosa contribuição. Muitas vezes lamentamos que, pela diversidade dos temas, os mesmos não podem ser aprofundados, em razão da exigüidade de tempo. 

O II Congresso Mundial de Espiritismo caracterizou-se pela admirável organização, pela qualidade, pelo elenco de temas apresentados, o que constituiu uma verdadeira glória para o Movimento Espírita, que pôde reunir 3.065 pessoas de 27 países diferentes, incluindo as ex colônias ultramarinas de Portugal. No entanto, nós advogamos a tese de que um número menor de temas sempre oferece oportunidade de um estudo mais amplo, de debates mais largos, ensejando as grandes pontes de atualização entre aquilo que está exarado na Codificação e vem sendo realizado pelas conquistas contemporâneas.



U. E.: Transcorridos 141 anos da Codificação, a difusão do Espiritismo, no seio da sociedade terrena, está em conformidade com a programação da Espiritualidade Superior, ou seja: Os objetivos, dentro deste contexto, até o momento, foram alcançados?

Divaldo: Somos de parecer que sim. As Entidades que por mim se comunicam são unânimes em dizer que o Movimento progride de maneira ascendente, com os riscos e as dificuldades naturais de toda e qualquer grandiosa idéia que se desdobra na superfície do Planeta Terrestre. Até hoje tem sido possível manter a pureza da Doutrina Espírita nas informações que transferimos para aqueles que nos buscam. O Espiritismo tem podido demonstrar que marcha ao lado da Ciência e não foi ultrapassado em um único conceito. Pelo contrário, as doutrinas psíquicas contemporâneas: a Psicologia, a Psicanálise, a Psiquiatria, neste momento confirmam a legitimidade dos postulados básicos do Espiritismo, tais a crença em Deus, na imortalidade da alma, na comunicabilidade do espírito, na reencarnação, sobretudo apresentando a psicoterapia otimista do Evangelho, na profundidade com que Jesus no-la ofereceu, e Allan Kardec pôde doar-nos, com absoluto espírito de lógica e de atualidade.

U. E.: Como o senhor analisa a probalidade de um número sempre crescente de pessoas aderirem à prática do aborto, naturalmente induzidos pela própria legalização, em casos que vão além do previsto, conforme questão 359 de O Livro dos Espíritos? Quais as conseqüências para o futuro?



Divaldo: Por mais que o aborto receba a legalização oficial, ele nunca deixará de ser um crime hediondo contra a Humanidade. Allan Kardec, com muita propriedade, transcreveu a opinião dos Espíritos, referindo-se ao aborto no qual se pretende salvar a vida da gestante, porque, não se tendo esse cuidado, é óbvio que o feto também morrerá. Assim, então, interrompendo-se a vida em formação, é mais lógico e fundamental que se preserve a vida já constituída do que aquela que ainda corre inumeráveis perigos. No entanto, a criatura humana, pelos seus instintos agressivos, procura o mecanismo descul-pista nas leis, invariavelmente injustas, para darem vazão aos seus sentimentos perturbadores, qual ocorre nestes dias, em que o mesmo é ilegal. Quando as leis, na Terra, forem favoráveis ao crime do infanticídio, aqueles que o cometerem não se poderão justificar de que agiam sob amparo da legislação humana, porquanto está estabelecido no Decálogo: "Não matarás", e isto não tem exceção. Ademais, repugna à consciência humana matar uma vítima indefesa, somente porque os caprichos, os preconceitos e os anseios desvairados impõem essa atitude, que nunca terá justificativa.

U. E.: O desenvolvimento da tecnologia assinala o avanço da inteligência humana, que é uma das alavancas do progresso. De outro lado, esse próprio avanço vem constituindo-se num dos fatores a colaborar para o alto nível de desemprego. A propósito, Allan Kardec, iniciando o comentário com referência à questão 685 de O Livro dos Espíritos, afirma: "Não basta se diga ao homem que lhe corre o dever de trabalhar. É preciso que aquele que tem que prover a sua existência por meio do trabalho encontre em que se ocupar, o que nem sempre acontece." De que maneira o senhor analisa todo esse contexto?

Divaldo: A Lei do Trabalho é lei da vida. Está demonstrado, através das conquistas das doutrinas psíquicas, que o indivíduo, quando deixa de realizar as suas atividades profissionais, recorrendo à justa aposentadoria, e não transforma o espaço vazio em atividade digna, realiza um mecanismo de transtorno neurótico. Hoje, existe uma área, na psicologia, para cuidar dos portadores de transtornos neuróticos de aposentadoria, o que equivale dizer, da falta de ação útil ao seu próximo. O trabalho deve ter por finalidade não apenas o sustento do indivíduo e da sua família mas também o de fomentar o progresso da coletividade. O trabalho não deve ter por meta somente a remuneração, mas também o incomparável prazer de servir.



Nós vemos que as conquistas da tecnologia foram muitas e em muitas áreas as máquinas substituíram os homens que, no desemprego, são estimulados à violência, ao crime e à entrega de si mesmos aos vícios, à toxicomania, à sexolatria, ao alcoolismo, ao tabagismo, ao jogo, como mecanismos de fuga da realidade. Isto ocorre por causa do egoísmo. É o egoísmo, a grande chaga da humanidade, que o Espiritismo veio combater, conforme nos ensina o próprio codificador. No momento em que nos voltarmos uns para os outros, compreendendo que somos células de um mesmo organismo, mudaremos completamente a paisagem e atingiremos o ideal que a Lei do Trabalho nos propicia, que é a ação contínua em favor da vida, em favor do próximo, na condição de co-criadores em relação a Deus e colaboradores em relação à Vida.

U. E.: Divaldo, há trinta anos o senhor realizava sua primeira viagem a Cascavel, época essa em que ainda vivia-se a fase do pioneirismo desbravador, delineando os traços de uma nova região. De lá para cá, seus diversos e constantes regressos passaram a constituir-se em motivos de júbilo, com acréscimos de gratidão, não somente por parte dos espíritas, como também pela comunidade em geral. Gostaríamos que o senhor deixasse sua mensagem a Cascavel e à Região.

Divaldo: Ainda me recordo quando, conduzido pela generosidade do inolvidável companheiro Guaracy Paraná Vieira, nos primórdios do desenvolvimento da cidade de Cascavel, aqui chegamos para apresentar a Doutrina Espírita. A cidade grandiosa de hoje surgia da mata densa e o traçado da grande urbe ainda se encontrava no papel, de maneira incipiente. Com o casal Remi e Neusa, tivemos oportunidade de apresentar a Doutrina Espírita entre expectativas, sorrisos e, por que não dizer, ansiedade. 30 anos depois, Cascavel transforma-se em uma metrópole. O movimento agiganta-se. Aqueles pioneiros permanecem. Operosos trabalhadores de toda parte retornam. Guaracy, do mundo espiritual, com os companheiros que administram o Movimento Espírita do Estado do Paraná, prossegue trabalhando e, nesta última jornada, para a grande multidão que acorreu ao Ginásio, foi possível demonstrar a excelência desta Doutrina sempre nova, sempre jovial e dignificadora, a nossa mensagem para esse povo laborioso e dedicado, de que somente o amor constrói para sempre.



Quando nós somos conduzidos pelo amor de Deus e iluminados pela lógica da Doutrina Espírita, os desafios não constituem impedimento, mas se tornam degraus ascendentes, para que sejam atingidos patamares mais elevados. As dores não se nos apresentam como punições divinas, antes como naturais processos de purificação, para retirarmos a ganga que cobre a gema preciosa que é o espírito, a fim de que possa refletir as estrelas. A angústia já não se faz numa noite tormentosa, porque a prece, a inspiração, o trabalho do bem, se transformam em estrelas que brilham, apontando rumos de uma perene aurora. 

Que os espíritas continuemos produzindo para o bem, sem qualquer presunção, com espírito de serviço, de abnegação e de fraternidade, para que as nossas palavras sejam respaldadas pelos nossos exemplos. A Humanidade tem ouvido oradores e tem lido escritores que arrebatam, mas tem seguido heróis que fazem o bem e que vivem os postulados através do exemplo. Então, recordando Jesus, eu diria: Que nos amemos, e que desejemos aos outros exatamente aquilo de bom que desejamos para nós.


(Entrevista concedida ao Jornal Universo Espírita ).

bjs,soninha


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