2.4.11

O Sonho de Nieta e o Pesadelo de Teresa


O inconsciente acha-se representado naquela fração 
do sonho que se registra na memória consciente. 
Fromm



Nieta era pessoa simples e tinha o sonho como uma interrogação. Já ouvira falar de pessoas que sonhando haviam chegado a resolução de problemas matemáticos, antes não resolvidos quando estavam acordadas.

Existem modalidades existenciais diferentes? A mente consciente constitui apenas parte do psiquismo total? Existe uma vida psíquica chamada de “inconsciência”, que é o principal protagonista quando o sono retira a outra de cena?

O Livro dos Espíritos (2), diz que a alma é um ser pensante que permanece ativo durante o sono. Pelos sonhos, quando o corpo repousa, o Espírito tem mais faculdades do que no estado de vigília, adquire maior potencialidade e pode pôr-se em comunicação com os demais Espíritos. Nesse estado alterado de consciência, o psiquismo profundo tende a subir em primeiro plano, até subjugar o EU da superfície?

André Luiz (3), espírito, relata que Nieta fora transportada ao salão acolhedor de Dona Isabel. Aniceto, espírito instrutor, aclara que numerosos irmãos encontram-se neste pouso de trabalho espiritual, na esfera a que os encarnados chamariam sonho. Complementa dizendo que nestas ocasiões, no entanto, não é fácil transmitir mensagens de teor instrutivo utilizando lugares comuns contaminados de matéria mental mais grosseira.

Percebemos uma pessoa sonhando por estranhos movimentos oculares produzidos, por ela, em certa etapa do sonho. O período REM, "rapid eye movements", é “paradoxal” porque no ápice do relaxamento vamos encontrar uma atividade intensa de numerosas estruturas cerebrais, com variação da freqüência das ondas cerebrais, e traçado próximo ao do estado de vigília. Quando eram acordadas neste período as pessoas contavam que tiveram um sonho (6).

Qual a visão espírita desses fenômenos? Como interpretar o sonho?(6) A tarefa não é muito fácil porque estamos mergulhados numa matéria muito densa. No entanto, André Luiz nos oferece um exemplo, quando Nieta sonha com a avó desencarnada.

Antes do sonho de Nieta (3) vamos ouvir outro relato.

Teresa também sonhava (1). No entanto, na sua visão é possível reconhecer os caracteres dos pesadelos e poderemos utilizá-la para fazer um esboço do inferno.

Você já teve pesadelos e acordou com aquela taquicardia? Como é bom acordar e encontrar a saída do inferno, embora alguns o admitam como eterno. Um pesadelo como o de Hiroshima e sem fim, seria também uma grande injustiça. Já pensou se um dos seus pesadelos fosse eterno? "Deus me livre", diria você, lembrando a misericórdia divina.

A descrição do inferno cristão é tomada dos autores "sagrados" e da vida dos santos. No livro "O Céu e o Inferno"(1), encontramos um esboço. Dele vamos tirar alguns trechos do pesadelo de Santa Teresa.

"Os demônios são puros Espíritos, e os condenados, presentemente no inferno, podem ser considerados puros Espíritos, uma vez que só a alma aí desce, e os restos entregues à terra se transformam em ervas, em plantas, em minerais e líquidos, sofrendo inconscientemente as metamorfoses constantes da matéria."

Mas, onde estará esse inferno?

"Alguns doutores o têm colocado nas entranhas do nosso globo; outros não sabemos em que planeta, sem que o problema se haja resolvido por qualquer concílio. Estamos, pois, quanto a este ponto, reduzidos a conjeturas". Mas, “Santo Agostinho não concorda que os sofrimentos físicos sejam apenas reflexos de sofrimentos morais e vê, num verdadeiro lago de enxofre, vermes e serpentes saciando-se nos corpos, casando suas picadas às do fogo. Os condenados, vítimas sacrificadas e sempre vivas, sentirão a tortura desse fogo que queima sem destruir."

"Há teólogos que dão do inferno descrições mais minuciosas, variadas e completas. E conquanto se não saiba em que lugar do Espaço está situado esse inferno, há diversos santos, transportados em espírito, que o viram". “Desse número é Santa Teresa. Dir-se-ia, pela narrativa da santa, que há uma cidade no inferno: — ela aí viu, pelo menos, uma espécie de viela comprida e estreita como essas que abundam em velhas cidades, e percorreu-a horrorizada, caminhando sobre lodoso e fétido terreno, no qual pululavam monstruosos répteis. Foi, porém, detida em sua marcha por uma muralha que interceptava a viela, em cuja muralha havia um nicho onde se abrigou, alias sem poder explicar a ocorrência. Era, diz ela, o lugar que lhe destinavam se abusasse, em vida, das graças concedidas por Deus em sua cela de Ávila."

“Apesar da facilidade maravilhosa que tivera em penetrar esse nicho, não podia sentar-se, ou deitar-se, nem se manter de pé. Tampouco podia sair. Essas paredes horríveis, abaixando-se sobre ela, envolviam-na, apertavam-na como se fossem animadas de movimento próprio. Parecia-lhe que a afogavam, estrangulando-a, a esfolavam e retalhavam em pedaços. Ao sentir queimar-se, experimentou, igualmente, toda a sorte de angustias."

O sonho de Nieta foi diferente, embora guardasse viva na lembrança a cobra ameaçadora (3).

No salão acolhedor de Dona Isabel, os espíritos André Luiz, Vicente e Aniceto observavam. Muitos recém-chegados pareciam convalescentes. Alguns se mantinham de pé, sob o amparo de braços carinhosos. Eram os amigos encarnados a se valerem do desprendimento parcial, pelo sono físico, que se reuniam a nós, aproveitando o auxílio de entidades generosas e delicadas. A maior parte não entendia com precisão, o que se lhes desejava dizer. Revelavam boa vontade na recepção dos conselhos, mas grande incapacidade de retenção. "Entre eles e nós existe um espesso véu. É a muralha das vibrações". "Eis porque raramente estão lúcidos ao nosso lado". Aniceto amplia a instrução: "vejam aquela jovem senhora encarnada (Nieta), em conversa com a vovozinha que trabalha conosco em Nosso Lar (3) André Luiz observa que uma anciã (avó desencarnada), de olhos brilhantes e gestos decididos, abraçava-se à neta."

" - Nieta - exclamava a velhinha, em tom firme -, não dês tamanha importância aos obstáculos. Esquece os que te perseguem, a ninguém odeies. Conserva tua paz espiritual, acima de tudo. Tua mãe não te pode valer agora, mas crê na continuidade de nossa vida. A vovó não te esquecerá. A calúnia, Nieta, é uma serpente que ameaça o coração; entretanto, se a encararmos de frente, fortes e tranqüilas, veremos a breve tempo, que a serpente não tem vida própria. É víbora de brinquedo a se quebrar como o vidro, pelo impulso de nossas mãos. E, vencido o espantalho, em lugar da serpente, teremos conosco a flor da virtude. Não temas, querida! Não percas a sagrada oportunidade de testemunhar a compreensão de Jesus!..."

A jovem não respondia, mas seus olhos semilúcidos estavam cheios de pranto. Demonstrava uma consolação divina, recostada ao seio carinhoso da devotada velhinha.

Como é bom ter uma avó como essa! Nós que estamos na condição de avós, embora ainda encarnados, devemos nos esforçar para que nossos netos possam também nos amar profundamente. Essa tarefa começa pelo amor que devotamos aos seus pais (5-V). Nessas relações sócio-familiares há um outro difícil caminho a percorrer é a obtenção do título de "sogros queridos".

O leitor pode imaginar o número de perguntas feitas por André Luiz e Vicente.

- Esta irmã se lembrará de tudo, ao despertar no corpo físico? – perguntou André Luiz, intrigado, ao orientador.

Aniceto sorriu e esclareceu:

_ "Sendo a avó mais evoluída e, examinando ainda a condição dos planos de vida em que ambas se encontram, a jovem encarnada está sob domínio espiritual da benfeitora. Entre ambas há uma corrente magnética recíproca, salientando-se, porém, que a vovó amiga detém uma ascendência positiva. A neta não vê o ambiente com precisão, nem ouve as palavras integralmente. Não nos esqueçamos que o desprendimento no sono é fragmentário e que a visão e audição, peculiares ao encarnado, se encontram nele também restritas".

Começamos a entender o que disse Erick Fromm: "na realidade o inconsciente acha-se representado naquela fração do sonho que se registra na memória consciente".

Aniceto complementa: "o fenômeno pois, é mais de união espiritual que de percepções sensoriais, propriamente ditas. A jovem está recebendo consolações, de Espírito a Espírito".

Sabemos da existência de tipos de sonhos, como fisiológico, pantomnésico, premonitório. No caso de Nieta, estamos diante do sonho espiritual, onde há vivência no plano extra-físico.

Como a pergunta de André Luiz foi parcialmente respondida, Aniceto continua a explicação: " Ao despertar, Nieta não se recordará de todas as minúcias deste venturoso encontro que acabamos de presenciar.

O leitor ainda não acostumado aos artigos espíritas deverá estar perguntando: - se Nieta não vai se recordar, de que então adiantou encontrar-se com a "santa" de sua avó, em sonho?

Aniceto, que parecia saber a dúvida que passava pela mente dos pós-graduandos, ampliou: "acordará, porém, encorajada e bem disposta, sem poder identificar a causa da restauração do bom ânimo. Dirá que sonhou com a avó num lugar onde havia muita gente, sem recordar as minudências do fato, acrescentando que viu, no sonho, uma cobra ameaçadora, que logo se transformou em serpente de vidro, quebrando-se ao impulso de suas mãos, para transformar-se em perfumosa flor, da qual ainda conserva a lembrança agradável do aroma. Afirmará que soberano conforto lhe invadiu a alma e, no fundo, compreenderá a mensagem consoladora que lhe foi concedida."

Vicente, curioso, perguntou:

- "não se lembrará das palavras ouvidas?"

- Nieta, precisaria ter adquirido profunda lucidez no campo da existência física – prosseguiu Aniceto, explicando – e devo esclarecer que recordará as imagens simbólicas da víbora e da flor, porque está em relação magnética com a veneranda avozinha, recebendo-lhes a emissão de pensamentos positivos. A benfeitora não fala apenas. Está pensando fortemente também. A neta, todavia não está ouvindo ou vendo pelo processo comum, mas esta percebendo claramente a criação mental da anciã amiga, e dará noticia exata dos símbolos entrevistos e arquivados na memória real e profunda. Desse modo, não terá dificuldade para informar-se quanto à essência do que a bondosa avó deseja transmitir-lhe ao coração sofredor, compreendendo que a calúnia, quando fere uma consciência tranqüila não passa de serpente mentirosa, a transformar-se em flor de virtude nova, quando enfrentada com o valor duma coragem serena e cristã.

Depois de sonhos espirituais, onde Chico Xavier estabelecera relação magnética com o espírito Emmanuel, surgiu o livro "Paulo e Estevão" (4), com emoção redobrada. Quem duvidar leia-o e observe os detalhes, as minúcias. Por mais duro que seja, seus olhos ficarão molhados!

André Luiz, após examinar o sonho de Nieta, diz que a lição fora profundamente significativa, porque começara a adquirir amplas noções do intercâmbio entre as duas esferas e lembrou no longo esforço dos que indagam o mundo dos sonhos (6). Quanta riqueza psíquica, suscetível de conquista, se pesquisadores conseguissem deslocar o centro de estudo, das ocorrências fisiológicas para o campo das verdades espirituais.

Nós compreendemos que, por algum tempo, ainda será assim. Nos nossos objetivos perseguimos horas de entretenimento, porque ninguém é de ferro! No entanto, é necessário, vez por outra, lembrar que não viemos a vida à passeio. Por isso, livro como "Potter" (5-I) é mais lido do que André Luiz.

Harry Potter é "muito mais moda que magia", "uma fórmula de sucesso apoiada num grande projeto de marketing" (5-I), como o de alguns políticos (7).

Os livros da codificação (1, 2) não vão sair de moda, porque os Espíritos Superiores elaboraram um plano de ação, implementado em 1857, não era apenas um plano de marketing.

Os livros de J.K. Rowling seduzem (5-II), exercem fascínio também em muitos progenitores. Guardada a proporção, descrições diversas contidas no livro "O Céu e o Inferno" (1) e na série André Luiz (3) também são capazes de aguçar, e muito, a nossa curiosidade, despertar e fazer voar nossa imaginação e, ainda, enriquecer nossos pensamentos formigando a emoção.

No entanto, são mais importantes que Potter pela vantagem de nos colocarem perto da realidade, como o filme de Andréa Pasquini (5-III), sobre lepra e hanseníase (5-IV) – "É tudo Verdade".

Muitos vão morrer sem conseguir ler todos os livros psicografados por Chico Xavier, embora seja mais rápido ler do que escrever. O espírita não vai conseguir arranjar desculpas por ter desencarnado sem ter lido "Paulo e Estevão"(4). Para escrevê-lo Chico Xavier (3) necessitou dos sonhos espirituais, como já disse, mas em "Os Mensageiros" é que André Luiz lembra: "ainda são poucos os irmãos encarnados, que sabem dormir, para o bem..."

Reencarnado no Brasil, de FHC-LULA-TAXAS DE JUROS ALTAS, perder tempo demais com entretenimento é como "entrar" no cheque especial. Ele já acumula alta de 208% no período de 12 meses.

Os especialistas em reencarnação/cheques especiais não recomendam uma vida de privações, sem gozos terrenos. Mas, defendem uma adequação à realidade da conta reencarnatoria/bancaria. Não se pode viver apenas para trabalhar e pagar contas, pois queremos "qualidade de reencarnação" (vida). Se a opção é a leitura, talvez seja possível unir o útil ao agradável, sendo mais seletivo e criando uma lista de prioridades. Como a média de vida não é alta, isto é, como a reencarnação é curta, mas os períodos entre uma e outra podem ser longos, a pessoa deve tomar cuidado para não entrar no cheque-"ouro". Deve decidir o que pode ser cortado e fazê-lo com cuidado, pois vai ser muito difícil explicar, ao instrutor espiritual, porque cortou "Paulo e Estevão" (4) e o "Nosso Lar" (3), em detrimento de outra literatura (5).

 autor: Luiz Carlos D. Formiga


fonte e bibliografia em:

bjs,soninha

Um comentário:

Anônimo disse...

Achei um encanto o teu canto. Precioso mesmo. A maior caridade que se pode fazer pela Doutrina Espírita, você está fazendo, divulgando-a. Guimar - sp/capital



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