21.2.13

Encarnação dos Espíritos




1.- Pela sua essência espiritual, o espírito é um ser indefinido, abstrato, que não pode ter ação direta sobre a matéria. Para isso, é-lhe indispensável um intermediário, que é o envoltório fluídico, o qual, de certo modo, faz parte integrante dele. Esse envoltório é semi material, isto é, pertence à matéria, pela sua origem e ao mundo espiritual, pela sua natureza etérea. 

2.- Como toda matéria, esse envoltório é extraído do fluido cósmico universal que, nessa circunstância, sofre uma modificação especial. Denominado perispírito, faz de um ser abstrato - o espírito - um ser concreto, definido, apreensível pelo pensamento. Torna-o apto a atuar sobre a matéria tangível, conforme se dá com todos os fluidos imponderáveis, que são, como se sabe, os mais poderosos motores.


3.- O fluido perispirítico constitui, pois, o traço de união entre o espírito e a matéria. Enquanto o espírito se acha unido ao corpo, serve-lhe de veículo ao pensamento, para transmitir o movimento às diversas partes do organismo, que atuam sob a impulsão da sua vontade, fazendo que repercutam no espírito as sensações que os agentes exteriores produzam. Os nervos servem-lhe de fios condutores, como, no telégrafo, o fio metálico serve de condutor ao fluido elétrico .

4.- Quando o Espírito tem de encarnar num corpo humano em vias de formação, um laço fluídico, que mais não é do que uma expansão do seu perispírito, o liga ao gérmen, que o atraí por uma força irresistível, desde o momento da concepção. À medida que o gérmen se desenvolve, o laço se encurta. Sob a influência do princípio vital do gérmen, o perispírito, que possui certas propriedades da matéria, se une, molécula a molécula, ao corpo em formação, donde poder dizer-se que o espírito, por intermédio do seu perispírito, se enraíza, de certa maneira, nesse gérmen, como uma planta na terra. Quando o gérmen chega ao seu pleno desenvolvimento, completa é a união. Nasce, então, o ser para 
a vida exterior. 


5.- Por um efeito contrário, a união do perispírito à matéria, que se efetuara sob a influência do princípio vital do gérmen, cessa quando esse princípio deixa de atuar, em conseqüência da desorganização do corpo. Mantida que era por uma força atuante, tal união se desfaz, logo que essa força deixa de atuar. Então, o perispírito se desprende, molécula a molécula, em sentido contrário ao que se deu quando da união e ao espírito é restituída a liberdade. Não é a partida do espírito que causa a morte do corpo: esta é que determina a partida do espírito.

6.- O Espiritismo, pelos fatos cuja observação faculta, dá a conhecer os fenômenos que acompanham essa separação, que, às vezes, é rápida, fácil, suave e insensível, ao passo que doutras é lenta, laboriosa, horrivelmente penosa, conforme o estado moral do espírito, podendo durar meses inteiros.



7.- Desde que o espírito é apanhado no laço fluídico que o prende ao gérmen, entra em estado de perturbação, que aumenta, à medida que o laço se aperta, perdendo, nos últimos momentos, toda a consciência de si próprio, de modo a jamais presenciar o seu nascimento. Quando a criança respira, começa o espírito a recobrar as suas faculdades, que se desenvolvem à proporção que se formam e se consolidam os órgãos que lhes hão de servir às manifestações.

8.- Ao mesmo tempo em que o espírito recobra a consciência de si mesmo, perde a lembrança do seu passado, sem perder as faculdades, as qualidades e as aptidões anteriormente adquiridas. Estas, que ficaram temporariamente latentes, voltam à atividade. Ele renasce qual se fizera pelo seu trabalho anterior. O seu renascimento é um novo ponto de partida, um novo degrau a subir. A bondade do Criador aí se manifesta, porquanto os amargores de uma nova existência, somados à lembrança de um passado muitas das vezes aflitivo e humilhante, poderia lhe criar embaraço.



Lembra do que aprendeu, por lhe ser isso útil e, às vezes lhe é dado ter uma intuição dos acontecimentos passados, como a lembrança de um sonho fugitivo. É, pois, novo homem, por mais antigo que seja como espírito. Adota novos processos, auxiliado pelas suas aquisições precedentes. Quando retorna à vida espiritual, seu passado se lhe desdobra diante dos olhos e ele julga de como empregou o tempo, se bem ou mal.

9.- Não há, portanto, solução de continuidade na vida espiritual. Cada espírito é sempre o mesmo eu, antes, durante e depois da encarnação, sendo esta, apenas, uma fase da sua existência. O próprio esquecimento se dá tão-só no curso da vida exterior de relação. Durante o sono, desprendido, em parte, dos liames carnais, o espírito se lembra, pois, então, não tem a visão tão obscurecida pela matéria.


10.- Perguntar-se-á se entre os mais atrasados selvagens é que se encontra o ponto inicial da alma humana. Na opinião de alguns filósofos espiritualistas, o princípio inteligente se individualiza e se elabora passando pelos diversos graus da animalidade. É aí que a alma se ensaia para a vida e desenvolve, pelo exercício, suas primeiras faculdades. Esse seria para ela, por assim dizer, o período de incubação. Chegada ao grau de desenvolvimento que esse estado comporta, ela 
recebe as faculdades especiais que constituem a alma humana. 


11.- Este sistema, fundado na grande lei de unidade que preside à criação, corresponde à justiça e à bondade do Criador, dando um destino aos animais, que deixam de formar uma categoria de seres deserdados para terem, no futuro, uma compensação a seus sofrimentos. O que constitui o homem espiritual não é a sua origem: são os atributos especiais de que ele se apresenta dotado ao entrar na humanidade, que o transformam, tornando-o um ser distinto. Por haver passado pela fieira da animalidade, o homem não deixaria de ser homem; já não seria animal, como o fruto não é a raiz e como o sábio não é o feto informe que o pôs no mundo.


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