IMPRESSÕES DEPOIS DA MORTE
Recebi sua pergunta,
Meu caro Tito Belém,
Sobre os momentos primeiros
De nossa vida no Além.
A pergunta é pequenina,
No assunto como se aponta.
Mas a resposta, a rigor,
Seria livros sem conta.
A morte é assim, qual a vida:
Renovação sem atraso...
Cada vida – nova história,
Cada morte – novo caso.
Embora o pouco que diga
Naquilo que eu não sabia,
Posso falar, de algum modo,
Sem muita filosofia.
Entre os que deixam a Terra,
Vê-se enorme diferença ;
Cada pessoa que parte
Está naquilo que pensa.
Quem viveu para o trabalho,
Sempre em serviço constante,
Estudando e construindo,
Não pára, segue adiante...
Entretanto, a maioria
Continua, muitas vezes,
Nos caprichos preferidos,
Por muitos e muitos meses.
Recorde nessa matéria,
O nosso amigo João Pio :
Morreu no abuso da pesca
E vive à beira do rio.
Anita do apego aos ouros,
No Roçado das Gibóias,
Sem corpo vive atracada
Em velha caixa de jóias.
Finou-se em brasas da ira,
O nosso Adálio Godinho.
Hoje, é um fantasma de casa,
Gesticulando sozinho.
Morreu apostando em bichos
O nosso Cecílio Luz.
Desencarnado ele clama
Por touro, cabra e avestruz...
Atarracado à cobiça
O Antonico do Hemetério,
Sem corpo, enxerga diamantes
Nas pedras do cemitério.
Bebia em caneco grande
Teotônio de Xique-Xique.
Desencarnado, deitou-se
Quase à frente do alambique.
Agarrado a bois de preço
Finou-se Juca Beiral.
Sem corpo, é um rondante aos gritos
Fiscalizando o curral.
Vivendo de sombra e rede,
Morreu Flausina da Granja.
Hoje é um fantasma de leito,
Pedindo prato de canja.
Tiro lá, tiro de cá,
Tombou Lino Santarém.
Desencarnado, quer briga,
Mas já não acha com quem.
Morreu perseguindo a muitos
Nhô Nico de João da Venda.
De tanta culpa ele é hoje
Assombração na fazenda.
Parada em sono e doença
Faleceu Joana Mangaba.
Depois da morte, carrega
Doença que não se acaba.
Sempre fugiu do trabalho
Dona França da Abadia.
Sem corpo, ela própria clama
Que sofre paralisia.
A Lei de Deus, caro amigo,
É clara, simples, segura...
Tudo o que temos na vida
É aquilo que se procura.
Deus nos inspire e nos guarde,
A verdade é isso aí...
Cada qual acha na morte
Aquilo que fez de si.
Do livro Amanhece.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
bjs,soninha
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