12.2.11

O Espírito e as Drogas.




Prosseguindo nas tarefas socorristas a que me afeiçoara no Plano Espiritual, acompanhei Calvino para serviço de emergência.

Enquanto volitávamos, atravessando faixas sempre mais densas, na direcção da Crosta, Luciano e eu; recebíamos oportunos esclarecimentos do generoso instrutor:

- Em verdade – dizia bondoso – tanto o céu quanto o inferno da terminologia teológica, começam nos caminhos do mundo, em experiências diversas da criatura humana. Os vícios constituem, nesse capítulo, autêntico chamariz às quedas mais espectaculares no abismo da dor. Se o homem comum soubesse dos perigos a que se vê ameaçado constantemente, procuraria reunir todas as suas forças para libertar-se definitivamente das situações indesejáveis. O vício, em boa sinonímia, quer dizer hábito destrutivo. Toda cautela possível no comportamento diário é necessária, para que a criatura eduque-se cada vez mais a caminho da paz e da tranquilidade. Um grande incêndio pode ter início num simples palito de fósforo.

A esta altura adentramos região de trevas, onde tivemos de dinamizar nossas vibrações individuais, projectando discreta claridade no ambiente.

Nesse exacto momento visualizamos um jovem em lamentável situação de angústia e dor.

Muito serenamente, Calvino informou-nos:

- Este nosso irmão vive nestas condições, conflitado e demente, há três anos, jamais faltou-lhe assistência de benfeitores dos Planos mais altos, dentro dos limites estabelecidos pela Lei, contudo, só ultimamente tem conseguido registrar vibrações superiores.

O rapaz, que se chamava Albertino, gemia como se sofresse doloroso pesadelo. Sua expressão facial traduzia desespero e pavor.

Calvino, afavelmente estendeu as mãos sobre o doente ao tempo em que pedia nossa colaboração por meio de prece silenciosa e foi então que percebi que o moço passava a respirar mais facilmente, demonstrando alívio.

Em seguida, o mentor esclareceu-nos:

- Estamos diante duma vítima do tóxico. O problema é delicado e exige de nós o máximo de compreensão. Albertino deixou o plano físico com a idade de vinte e seis anos, após insuflar nas artérias excessivas doses de cocaína. Viciado fazia mais de oito anos, vinha paulatinamente degenerando seu organismo, com graves distúrbios no campo psíquico.

Sem que me pudesse controlar ante a inusitada experiência, levantei uma questão:

- O tóxico, além de alterar a saúde física, abala a estrutura íntima da alma?

O orientador, pacientemente, explicou-me:

- A droga lembra o cupim, animáculo que corrói madeira, causando quase que ocultamente danos irrecuperáveis. Inicialmente o indivíduo invigilante ingere pequena dose, sem atinar para as consequências do ato praticado. Em seguida outra e mais outra. A progressão das doses e o uso variado do alucinógeno, estabelece a dependência que em si representa não apenas problema fisiológico, mas sobretudo, espiritual, deteriorando continuamente os centros vitais magnéticos.

Todo o sistema nervoso é atingido juntamente com o aparelho circulatório, respiratório e região gastrointestinal. A essa altura são igualmente prejudicadas as glândulas sudoríparas e endócrinas. Os neurónios, células delicadíssimas do cérebro, passam também a desgastar-se e consequentemente se estabelece o enfraquecimento da vontade, apesar de toda a reacção dos anticorpos nos mais diversos sectores da fisiologia.

Foi nesse ponto das considerações altamente valiosas que formulei outra pergunta:

- E o problema obsessivo, onde fica?

- As atitudes da pessoa - elucidou gentilmente - tem sempre repercussão no plano invisível. As boas acções encontram ressonância nas faixas elevadas, enquanto as más buscam sintonia com as sombras, isto é, com as zonas da ignorância e do sofrimento.

Após ligeira pausa. prosseguiu:

- Considerando a circunstância, devo dizer que a pessoa a - quem prestamos amparo neste momento, está ligada por vigorosos laços magnéticos a entidades sombrias, desde os seus primeiros passos na ribanceira do vício.

O instante era grave. O serviço exigia nossa melhor atenção, portanto, calei minha curiosidade científica, enquanto, obedecendo ao orientador, voltamos às aplicações fluídicas, visando a recuperação de Albertino.

Extraído de "NOVAS LUZES", dos espíritos André Luiz e Hilário Silva, psicografia de Ariston S. Teles,

edição LIVRE, págs.101-104 


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