24.4.12

OBSESSÃO II



Outra coisa que convém dizer é que os trabalhos de  efeitos físicos, do ponto de vista espiritual, são de categoria inferior, e os médiuns desta espécie, mais que quaisquer outros, estão sujeitos a perturbações físicas, psíquicas, obsessões, degenerações. 

Para evitar isso é preciso que não se entreguem completamente a Este gênero de atividade e cuidem, o mais possível, de sua elevação moral. 

Mais que outros, a vaidade pode perdê-los, ou as tentações de benefício material porque, se possuirem mediunidade em boas condições, sofrerão o assédio constante dos curiosos, dos investigadores, dos incrédulos e dos aproveitadores. 

Este é campo em que a curiosidade de muitos encontra pasto, nem sempre seguida da verdadeira compreensão espiritual, que edifica no íntimo de cada um os fundamentos da fé, e os propósitos indeclináveis da reforma moral, que é a base cristã, fundamental, da doutrina espírita.

A produção de fenômenos tem indiscutível utilidade  no campo da investigação criteriosa e bem intencionada, mas não deve se transformar em objetivo fundamental de todo o esfôrço no estudo e  na aplicação dos ensinamentos da doutrina. 

É preciso fugir ao encantamento que o fenômeno exerce sobre os trabalhadores inexperientes ou novatos, bem como do fanatismo, muitas vezes obsessionante, que afeta aqueles que não passam dos aspectos superficiais do problema e se agradam, por vaidosos, daquilo que lhes atinge a personalidade e que levam na conta de privilégios. 

E quanto aos médiuns é importante saber que devem se esquivar ao comércio de emoções com o invisível, sem um alvo elevado de benefício ao próximo; ao sentimento de monopolizar o intercâmbio; enfim à busca de sensações e aventuras nesse campo de trabalho, tendo em vista a glória da mediunidade, que não reside no fato de ser o médium instrumento de determinadas inteligências invisíveis ou encarnadas, sejam quais forem, mas sim no de cooperar no esfôrço geral dos dois mundos, para benefício de todos; os médiuns não são ferramentas cegas manejadas por  operadores exclusivistas, mas instrumentos humildes e fiéis da Divindade. 

* * * 

No estudo da mediunidade surge agora o capítulo realmente fascinante da mediunidade nos animais e este estudo nos leva, para melhor entendimento, a uma revisão da vida espiritual dos animais, enfrentando a controvérsia existente sobre o assunto. 

O Espiritismo ensina que a monada espiritual, a cintila divina, evoluir através dos reinos realizando, em cada um, as experiências que eles oferecem para benefício de sua sensibilidade, de seu despertamento psíquico. 

No volume nº 1 da série Iniciação Espírita já estudamos este assunto desenvolvendo-o em certo limite e por ali vimos que no reino mineral a monada sofre as influências oriundas dos processos físicos e químicos que se passam no seio das massas minerais, recebendo deles o máximo de influenciação quando atinge a família dos cristais, na qual já se observa um instinto de estesia nas formas geometricamente perfeitas que apresentam. 

No reino vegetal, já estando integrado em substância orgânica proto plasmática, a monada já concorre a formar agrupamentos celulares  nos quais a sensibilização avança um passo. 

No reino animal ela, de parte de um agrupamento, passa a ser uma unidade espiritual, a sua vez formada de agrupamentos celulares menores, isto é, passa a ser o centro da atividade celular individual penetrando já bem dentro do campo da sensibilidade e do princípio da inteligência individual. 

Finalmente quando entra no reino hominal ela já possui uma organização psíquica apreciável capaz de proporcionar-lhe experiências mais complexas, advindas dos dois setores diferentes —coração e cérebro — utilizando o livre arbítrio e um teor de consciência suficiente, para  conduzi-la por si mesma a caminhos altos nos campos da evolução, próprios do reino espiritual. 

Já vimos que a mediunidade se manifesta em todos os graus da escala, do baixo ao alto, como manifestação que é, de intermediarismo automático entre todos os seres. 

Desde que entra no reino animal a monada já adquiriu um coeficiente de sensibilidade bastante apreciável, o que lhe permite manifestar mediunidade, visto que esta é justamente o resultado maior ou menor da sensibilização do ser. 

Daí logo se percebe que as manifestações serão mais acentuadas e frequentes nas famílias animais mais evoluídas, sobretudo aquelas que mais de perto convivem com os homens, seres mais evoluídos, ao contato de cujos sentimentos a sensibilização dos animais aumenta. 

São inúmeras as formas de mediunidade entre os animais, porém as mais observadas são as pertencentes ao campo da vidência. 

Como os animais vivem ao mesmo tempo no astral e no plano material denso, a visão e a audição captam impressões desses dois planos: ouvem e vêem com facilidade nos dois planos, os seres encarnados e desencarnados. 

Sentem a aproximação de pessoas como também a de acontecimentos telúricos ou cósmicos (terremotos, tempestades etc.). Das pessoas com as quais convivem (sendo domésticos) sentem os fluidos bons ou maus, os sentimentos amistosos ou hostis e  instintivamente se afastam ou se aproximam conforme o caso. 

Porém há também os casos típicos da mediunidade entre eles nos quais, como entre os homens, o intermediarismo é manifesto. São do conhecimento de todos os casos de burros, cavalos, cachorros e gatos que lêm e contam com surpreendente exatidão.

Como não é possível que animais, cuja organização psíquica ainda não comporta consciência ativa e metódica e capacidade  de raciocínio, realizem cálculos matemáticos ou leiam palavras da língua humana, é forçoso reconhecer que quem leu ou fez a conta não foi o animal mas alguma inteligência que dele se utilizou. Essa inteligência já sabemos que é o espírito que se serve do animal para isso. 

O espírito lê a palavra escrita e bate com a pata ou a cabeça do animal, produzindo o movimento convencional relativo a essa letra, ou palavra, ou número. 

E aqui cabe, de passagem, algumas referências a respeito da licantropia, singular capítulo sobre as formas mais baixas da encorporação. 

Realmente os casos impressionantes de licantropia são todos casos que provam a mediunidade dos animais. O feiticeiro, o macumbeiro, desdobrando-se do seu corpo físico, apoderar-se do corpo animal seja ele qual for, doméstico ou selvagem e, nesse corpo, age como entender, conscientemente, realçando muitas vezes longas caminhadas por florestas ou desertos, no afã de expandir, ao contacto daquele ser rústico, as paixões animais que lhes são próprias e afins. 

Os autores que escreveram sobre as seitas e os ritos dos povos indianos e africanos, comumente citam fatos interessantes a respeito desta forma de mediunidade. 

Na Índia referem-se aos homens-tigres, encorporação ou semi-incorporação de feiticeiros em tigres que funcionam como médiuns e que nem por isso deixam nesses momentos de atacar e devorar suas vítimas. 

Na África mulheres e homens, encarnados e desencarnados se incorporam em animais domésticos: gatos, cães etc., e selvagens: lobos, raposas, veados etc., e correm o país pelas noites  a dentro em busca de emoção e de informações de que carecem para conservação do seu prestígio perante as tribos ignorantes das quais são oráculos ou sacerdotes. 

Cito um caso: uma caravana científica ficou sem abastecimento e recursos diversos, na dependência de um navio que devia arribar no porto mais próximo, mas que tardou muito a chegar. 

Os portadores enviados ficaram retidos em certo local por chuvas e enchentes e, ante a perspectiva da penúria, o chefe recorreu ao feiticeiro local o qual à noite, encorporado em um lobo, bateu 200 quilômetros da mataria e voltou para trazer, no dia seguinte, notícias positivas sobre os portadores ilhados e o navio que acabara de arribar na costa. 

Os espíritos familiares e protetores muitas vezes lançam mão dos animais domésticos para fazerem advertências, darem avisos, alertarem seus amigos e protegidos sobre males pendentes ou acontecimentos que devem ser evitados. Nos casos de morte sucede os pombos abandonarem as casas e os cães uivarem lamentosamente horas a fio: pressentiram o, transpasse. 

Neste capitulo é obrigatória a citação dos Elementais, sêres singulares e misteriosos, cuja existência é constatada por muitos e ignorada pela maioria. Pois sua mais útil e interessante tarefa é justamente essa de influir sobre os animais levando-os a agir desta ou daquela maneira. 

Podemos dizer que êles, os Elementais, é que são os autores das manifestaçôes do instinto entre os animais. Eles mesmos, cada um no seu gênero, são o instinto, simples, natural, imperativo, violento, espontâneo. 
Daí serem altamente perigosos quando utilizados pelos homens no campo das paixões naturais, cuja exacerbação produzem a limites imprevisíveis. 

Livro: A Mediunidade
Autor: Edgard Armond

Paz a todos

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